domingo, 22 de agosto de 2010

Lembranças dos Anos 60, 70, de Ary da Matta, Anisio Teixeira, Ênio Silveira, Octalles Marcondes e Madame Satã e dos amigos da Benjamin Constant

Naquela época, por volta do ano 1965, eu ainda garoto com meus cinco anos, andava pelos corredores e escritórios da Editora Nacional, onde meu pai trabalhava e eu vivia entre prateleiras repletas de livros. Nesta época, conheci o professor Ary da Matta, dele ganhei um trenzinho de brinquedo e alguns anos mais tarde tomei conhecimento do quanto havia contribuído para a cultura de nosso país.

Fatos importantes ocorreram naqueles anos 60/70, como a misteriosa morte de Anísio Teixeira, que foi encontrado morto no poço de um elevador. E a noite em que diversos livros de Ênio Silveira, proprietário da Livraria Civilização Brasileira, chegaram encaixotados bem tarde da noite na Editora Nacional que era de propriedade de seu Sogro Octalles Marcondes. Todos os livros foram rasgados e desapareceram. Tempos depois, eu saberia por que, quando percebi como era o pensamento de Ênio e como o Governo Militar Brasileiro atuava com as pessoas que não pensavam como eles. Porém, um quadro na parede da Editora Nacional, despertava muito a minha atenção, nele lia-se: “Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”, por causa desse quadro, eu tive uma imensa fixação pela leitura. Anos mais tarde, soube que esse era o pensamento de Ênio.

A vida no Bairro da Gloria, Rio de Janeiro, reservou muitas surpresas, como a noite de 22 de setembro de 1976, em que uma bomba explodiu num “fusca” vermelho a poucos metros da sede da CNBB que ficava também na Rua Benjamin Constant na Glória, o carro pertencia a Dom Adriano Hipólito Bispo da Cidade de Nova Iguaçu, na época. Naquela noite, eu assistia à TV quando ocorreu a explosão, senti como que um deslocamento do sofá, como se ele tivesse saído do chão por alguns centímetros. Logo, o local ficou cheio de curiosos.

Em meados de 1975, estávamos eu e o Eduardo no Bar na esquina da Benjamin Constant, Bar do Espanhol Velasques, eu, com quinze anos, Eduardo com uns dezesseis, como morávamos perto e tínhamos grande estatura, achavam que tínhamos mais de dezoito, fato pelo qual não éramos retirados do bar, além de sermos conhecidos em todo o bairro. Lembro-me que uma noite o misterioso e temido Madame Satã entrou no bar, chegou bem perto de nós e falou algo com Eduardo, Madame Satã já bem velho e, se não me engano, com um defeito físico em uma perna, permaneceu conosco bebendo cerveja por mais de duas horas, contou-nos um pouco de sua história e depois se foi, ele era uma lenda da boemia da Lapa e custou-me acreditar que uma pessoa dita muito perigosa tenha ficado ao nosso lado conversando como ficou.

A diversidade de pessoas que conheci poderiam ter me influenciado para alguma das características de suas personalidades, porém percebo que fui um observador do modo de viver e de pensar delas e que nunca me desliguei de uma maneira de pensar própria, como que tivesse um pensamento imutável, logo eu que achava Raul e a Metamorfose Ambulante o máximo.

Tenho certeza que a influência do convívio entre os livros, alguns de seus autores, as pessoas e as personalidades antagônicas que conheci, deram-me a consciência necessária para o gosto pela leitura, pelas artes, pela música que adoro de forma eclética.

Infelizmente não conclui o curso de Letras, que interrompi devido a outras escolhas, porém esse convívio proporcionou como que uma vontade incrível de estar sempre em envolvimento com a escrita e a leitura.

Tempos mais tarde, passei a trabalhar na mesma editora, onde passei pela sua intervenção pelo BNDES e a chefia de um General e, posteriormente, sua venda para outro grupo editorial, findando assim um ciclo.

Hoje curiosamente vivo em Nova Iguaçu e na família temos pessoas ligadas à História, outras com interesse pelo Jornalismo, um curioso interesse sempre voltado para os livros, a notícia e a cultura.

Atualmente, sou um burocrata que escreve de vez em quando, mas mesmo nesse campo tenho interesse em transmitir o que conheço e aprender o que as outras pessoas têm a ensinar. Espero poder ainda transmitir o gosto de ensinar e apreender a outras pessoas com as quais me relacionar.

Nos dias de hoje, já com cinquenta e um anos, espero poder terminar o curso de Administração de Empresas, pois as ideias são muitas, fervilham. Não quero mais esperar pelo que falta para concluir qualquer uma delas, a hora é de fazer acontecer.

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