quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO DENTRO DE UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DE HORÁRIO INTEGRAL DE REALIDADE RURAL

Artigo Publicado no VI Encontro Internacional Fórum Paulo Freire - 2008
www.paulofreire.org/FPF2008

RESUMO
O Programa Bairro-Escola, projeto político-pedagógico do Município de Nova Iguaçu, desenvolve um conjunto de práticas sócio-educativas que tem como principal foco a Educação Integral, que visa oferecer condições para que as crianças possam ter acesso, ao exercício de uma educação transformadora por meio de oficinas como Esporte, Cultura, Aprendizagem e Educação Ambiental, sendo esta última o nosso principal enfoque. Dentro dessa perspectiva, esse estudo tem o propósito de apresentar relatos de experiências do processo de inclusão da Educação Ambiental em escolas de Horário Integral de realidade rural, resultado de Diagnósticos Rurais Participativos que apontaram para novas possibilidades de concretização para cidadania. Estes se justificaram pela necessidade de facilitar para as crianças, escolas e comunidade rural o processo de autoreconhecimento/identidade rural, assim como valorização das potencialidades e do autodesenvolvimento local.

ABSTRACT
The Bairro-Escola Program, political and educational project the city of Nova Iguaçu, develops a set of socio-educational practices that is to focus on Integrated Education, to provide conditions so that children could have access, the pursuit of an education processing through workshops and Sports, Culture, Learning and Environmental Education, which is our main focus. Within this perspective, this study is the purpose of presenting reports of experiences of the process of inclusion of Environmental Education in Schools of Full-Time rural reality, the result of Participatory Rural Diagnostics that pointed to new possibilities of achievement for citizenship. These are justified by the need to facilitate for children, schools and rural community the process of knowledge themself / rural identity, as well as the potential recovery of self and place.

INTRODUÇÃO
O Programa Bairro Escola projeto político pedagógico do Município da Cidade de Nova Iguaçu desenvolve um conjunto de práticas sócio-educativas que apontam para novas possibilidades de concretização da educação para cidadania, na escola e fora dela. O Programa tem como principal foco a oferta da Educação Integral, fruto da inovação curricular, na medida em que ressignifica os saberes.
São oferecidas oficinas de Esporte, Cultura, Aprendizagem, Educação Ambiental, dentre outras; desenvolvidas sempre no contra-turno da matrícula regular. Independente do tipo de oficina e de sua área de atuação, a proposta pedagógica é direcionada para a conquista gradual da autonomia e da plena cidadania.
Este artigo trata-se de parte de um recorte de experiências de oficinas de Educação Ambiental dentro do Programa Bairro Escola em Escolas de Horário Integral de realidade rural no Município da Cidade de Nova Iguaçu.
A iniciativa em expor este trabalho deu-se após discussões entre o grupo de estagiários que atuam dentro do Programa Bairro-Escola que fazem as oficinas de Educação Ambiental sobre suas práticas no Horário Integral em escolas de realidade rural, que têm como uma das finalidades prioritárias inserirem dentro da perspectiva da Educação Integral, a proposta da Educação Ambiental.
Iniciar com as oficinas de Educação Ambiental em escolas de realidade rural pareceu um tanto desafiador, pois encontrar ferramentas mediadoras que contribuíssem com essa causa, não parecia fácil, de modo a respeitar a todos que fazem a ‘educação do campo’, nos seus sonhos, memórias, cultura, histórias, enfim, nos seus saberes diferenciados. Nesse intere o DRP – Diagnóstico Rural Participativo apareceu como o instrumento mais adequado para iniciarmos a proposta de inclusão da Educação Ambiental no campo, por ele ter também como finalidade facilitar o desenvolvimento de uma nova mentalidade nas escolas de realidade rural, trazendo reflexões e ações que podiam proporcionar qualidade de vida, bem estar social. Assim, pensar em fazer acontecer por meio do DRP inicialmente, seria uma prática que proporcionaria a sensibilização das crianças, escola e comunidade, como sujeitos sociais para a estruturação de proposta de ação para o desenvolvimento local abrangendo para uma esfera global.
Então, apresentar aqui parte desse processo passou a ter uma importância significativa, uma vez que, evidenciou-se que numa das primeiras práticas das oficinas de Educação Ambiental, o DRP, contribuiu para uma transformação social nas comunidades, nos aspectos sócio-culturais, facilitando a autonomia dos envolvidos, o auto-reconhecimento de aspectos da realidade, assim como reflexões críticas sobre desenvolvimento sustentável e um autodesenvolvimento, resultado de um processo de ressignificação de saberes.
Contudo, essa iniciativa da inclusão da Educação Ambiental, por meio do DRP visou no sentido amplo do processo de formação humana, construir referências culturais e políticas para a intervenção das pessoas e dos sujeitos sociais na realidade local, buscando fazer um movimento de conscientização dos povos do campo sobre o seu direito à educação que respeite sua realidade local. Observou-se que desenvolver práticas e pesquisas que resgatem as memórias e as histórias das culturas regionais é essencial, nesse movimento de construção de um trabalho voltado à realidade do campo.

MÉTODO
Com a proposta de inclusão de uma educação ambiental em escolas de Horário Integral de realidade rural do Município de Nova Iguaçu, observou-se a necessidade de fazer um Diagnóstico Rural Participativo (DRP), que segundo Chambres (1982) seria um termo empregado para designar “um conjunto de metas e abordagens que possibilitam às comunidades compartilhar e analisar sua percepção acerca de suas condições de vida, planejar e agir”. Esta ação propôs construir juntamente com os envolvidos, ações que pudessem atender as reais necessidades, proporcionando o compartilhamento de experiências, analisarem seus conhecimentos, construírem ações de intervenção e execução fundamentadas em suas próprias experiências, por meio de uma ação reflexiva.
Este método originou-se no movimento de pesquisa-ação, inspirado Freire (2007), e incorporou a filosofia e técnicas da Análise de Agroecosistemas, da Antropologia Aplicada, da Pesquisa em Sistemas de Produção e do Diagnóstico Rural Rápido (PRETTY et alii, 1995).
O método utilizado para coleta de dados foi o DRP - Diagnóstico Rural Participativo. Foi realizado com a participação da comunidade, despertando a autodeterminação em busca de um desenvolvimento sustentável, cuja análise metodológica foi feita a partir das condições e possibilidades dos seus participantes, com interferência mínima dos mediadores (os estagiários de educação ambiental). (Op.Cit).
Ainda segundo Pretty (1995), o Diagnóstico Rural Participativo - DRP trata-se de um conjunto de técnicas e ferramentas, que fornece suporte às comunidades a fazerem o seu próprio diagnóstico a elaborar o planejamento e o desenvolvimento da mesma. (Op.Cit)
O DRP permite uma coleta de informações rápidas e oportunas, sendo completa, podendo ter varias fontes (dados censitários, fotografias aéreas, observação participante, entrevistas, diagramas, mapas, calendários, de atividades, travessias, fotos, e outros). Respeito à sabedoria e a cultura do grupo; análise e respeito às diferentes percepções; e saber ouvir todos os membros da comunidade, são alguns dos princípios básicos do DRP. (Op. Cit)
Este instrumento, portanto, proporcionou um desdobramento que apontou para a execução de algumas tarefas: manter viva a memória da Educação do Campo; continuando e dinamizando sua construção e reconstrução pelos seus próprios sujeitos; identificar as dimensões fundamentais da luta política a ser feita no momento atual; e seguir na construção do projeto político e pedagógico da Educação do Campo.
Apresentar-se-á recortes de relatos de experiências de estagiários das oficinas de educação ambiental de acordo com área de atuação corresponde.

Relatos de Experiências dos DRP – Diagnósticos Rurais Participativos
- Escola Municipal de Adrianópolis (Estagiária atuante: Simone Alves)
As oficinas de Educação Ambiental dentro do Programa Bairro Escola, ao contemplar a Escola Municipal de Adrianópolis, agregam valores como espaço facilitador de estratégias educativas e de contribuição para propostas de intervenção na comunidade. Desta forma, procurou-se com o projeto fortalecer o reconhecimento do autopertencimento, consciência e valorização do campo e dos seus atores.
A proposta do Diagnóstico da Realidade utilizou-se instrumentos de observação, entrevistas, fotos e desenhos, com a finalidade de uma construção coletiva e socializando idéias da comunidade escolar, pais e alunos. Assim, procurou-se interagir com propostas de ações, no que diz respeito às problemáticas encontradas e apropriação das potencialidades locais.
Na construção do diagnóstico pode-se observar que o campo é considerado como local de atraso, um espaço subordinado à cidade. Nesse bairro, vive uma população, bastante carente, inclusive com deficiência alimentar e de serviços básicos essências, tais como: tratamento de esgoto, disponibilidade de água com potabilidade e pavimentação que dificulta o acesso à escola, em dias chuvosos.
Apesar deste quadro, sugeriram-se ações para as problemáticas encontradas, dentre elas, a horta escolar, que surge como uma singular oportunidade para desenvolver de forma lúdica e interdisciplinar conteúdos de ações de Educação Ambiental e introduzir uma necessária discussão sobre sustentabilidade alimentar, como instrumento pedagógico.
Todo o trabalho na horta esteve fundamentado em metodologias participativas, onde o diálogo, o trabalho coletivo e a solidariedade fizeram-se perceptíveis em cada uma das ações.
A doação de mudas e sementes, com envolvimento de membros da comunidade, empresas local e da escola (alunos, professores, direção, cozinheiras e funcionários), foi também um dos parâmetros que se permitiu avaliar o sucesso da nossa proposta participativa.
Cabe destacar que se pode ratificar a importância que uma horta escolar, como um espaço pedagogicamente a ser explorado e pensado não apenas como um espaço produtor de alimentos. Nesse contexto tem-se visto que só proporciona a vivificação do currículo, a consolidação de trabalhos interdisciplinares e a construção de atitudes de cidadania, além do incentivo a construção de hortas comunitárias e domiciliares.

- Escola Municipal Barão de Guandu (Estagiário atuante: Gilvanete Santos)
É a primeira vez que trabalho neste tipo de projeto, apesar de já ter tido experiências na área, mas nada parecido, pois este já começou com um grande diferencial, o diagnóstico participativo, de grande valor, visto que só a partir deste que poderia começar desenrolar alguma atividade na escola ao qual fui contemplada a trabalhar, Escola Municipal Barão de Guandu, em Vila de Cava - Nova Iguaçu.
O diagnóstico foi realizado com uma metodologia participativa, com observações, entrevistas, sondagens e até mesmo com atividades nas quais os alunos expressaram sentimentos e puderam relatar a situação e o ponto de vista de cada um a respeito do bairro, da comunidade e da escola inseridos no seu meio de convivência. A realização do diagnóstico durou um mês, foi um trabalho interessante, eu estava fazendo um diagnóstico participativo com todos envolvidos com a escola, mas algumas pessoas participavam sem saber que estavam participando, isso foi curioso e diferente pra mim, e importante para a realização do trabalho, pois existem sujeitos que se negam a comentar o que realmente pensam, ou até distorcem suas falas, quando sabem que estão sendo sondadas. Assim, pude coletar relatos realmente verdadeiros, não meras frases e pensamentos já feitos. Procurei em meus estudos e trabalho de pesquisa, analisar os limites, os desafios, as perspectivas e as emergências que se apresentam no contexto da comunidade onde a escola está inserida, e assim pude observar que se trata de uma escola com muito potencial, no qual pode ser aproveitado, mas que enfrenta dificuldades, com possibilidades de serem resolvidas, basta à vontade e ajuda de todos.
É uma escola realmente de caráter rural, afastada do centro urbano, com poucos alunos e funcionários, fazendo jus ao tamanho da mesma. Com crianças de vários perfis, desde as mais tímidas até as mais agitadas, algumas nem ao menos sabem ler e/ou escrever - um quadro frustrante, mas real. Vi também a dificuldade do acesso à escola, uma vez que a estrada que viabiliza este fato fica totalmente alagada quando chove e devido também à distância da escola, juntamente com falta de transporte adequado e suficiente para a mesma. Observei também que se trata de uma população que não desenvolve nenhuma forma de produção para comercialização, apenas subsistência, e ainda sendo esta muito rara; não aproveitam efetivamente do potencial do local. Estes são alguns pontos coletados com o diagnóstico, que foram de grande valia como suporte para começar o desenvolvimento do projeto. Já iniciei o trabalho com oficinas de Educação Ambiental, principalmente no que diz respeito à cooperação, união, valorização, e relação indivíduo e meio ambiente, ajudando-os assim a se reconhecerem como parte do meio em que estão inseridos, despertando a valorização do lugar em que vivem e incentivando-os ao seu desenvolvimento junto com o da comunidade local. Comecei também a implantação de uma horta escolar, será o principal suporte para desenvolvimento das oficinas.
Está sendo uma experiência única, onde estou podendo contribuir com o que aprendi na minha vida acadêmica e da mesma forma aprendendo muito com a vivência, a prática, e a história desta escola, desta comunidade, enfim deste bairro, realmente, está sendo uma verdadeira troca de saberes.

- Escola Municipal de Shangri-lá (Estagiária atuante: Geovana Oliveira)
O Diagnóstico Rural Participativo da Escola Shangri-lá, localizada no Bairro Lagoinha, Sub-bairro Parque Todos os Santos, contou com a contribuição de alguns membros da comunidade, incluindo alunos da escola, moradores do local, professores, coordenadores, direção e pais de alunos.
A comunidade é carente e os moradores usam o bairro como dormitório. Os poucos que ficam o dia todo trabalham em pequenos comércios. Também há atividade pesqueira no local, pois o rio Guandu fica nas proximidades do bairro, servindo de fonte de renda para alguns deles.
A maioria das propriedades possui terrenos pequenos, mas mesmo assim percebe-se certa tendência a possuírem pequenas criações, preferência por algumas árvores frutíferas como acerola e bananeira, e também plantas ornamentais e algumas medicinais. Observou-se que nas famílias, por não possuírem estabilidade financeira, os filhos se casam e constroem suas casas no quintal dos pais, diminuindo ainda mais o espaço e perdendo cada vez mais sua identidade com o campo.
O programa Bairro-Escola, realizado na E. M. Shangri-lá, conta com a contribuição de quatro parceiros, a saber: Igreja Quadrangular, Igreja Católica, Posto de Saúde e Creche Comunitária Ana Cândida.
Através do Diagnóstico surgiu uma proximidade com a comunidade e com a ajuda de uma moradora, descobriu-se que a alguns anos, antes das reformas feitas pela Prefeitura, existia uma horta com plantas medicinais onde os funcionários do Posto de Saúde e membros da comunidade faziam a manutenção, traziam mudas e produziam medicamentos fitoterápicos, os quais eram distribuídos à comunidade após as consultas. Com as reformas, o espaço ficou para o projeto da nova horta que, com a Parceria feita pelo Projeto Campo-Escola será dado continuidade.
Com o Diagnóstico, as características particulares da comunidade em citação, foram registradas, favorecendo a construção de um Plano de Ação com possíveis soluções e elaboração de oficinas em Educação Ambiental, de forma a se trabalhar junto com a comunidade que é a maior conhecedora de si mesma.

- Escola Municipal Vale do Tinguá (Estagiário atuante: Edimar Cruz)
Das diversas ferramentas existentes para elaboração do Diagnóstico Rural Participativo que vem sendo desenvolvido na Escola Municipal Vale do Tinguá por intermédio do projeto Campo Escola da prefeitura de nova Iguaçu, foram utilizados os métodos das Entrevistas Semi-Estruturadas e o passeio transversal de modo a valorizar as informações e a bagagem cultura trazida pela comunidade alvo.
A região onde se insere a comunidade assume grande relevância no contexto regional, devido sua contribuição para o equilíbrio ambiental da região através da preservação de uma importante parcela do Bioma Mata Atlântica, vegetação essa em risco de extinção em todo território nacional. O resultado dos trabalhos de conscientização e preservação resulta em mudanças climáticas, proporciona uma importante fonte de pesquisa, faculta o turismo na região e participa da produção de grande parte da água consumida na região.
A comunidade é cortada por dois importantes rios que são responsáveis pelo dreno da água produzida no local e já é percebido no leito destes rios, o acumulo de areia indicando ações exploratórias antrópicas feitas em locais à montante da bacia hidrográfica por práticas indevidas e degradadoras na região preservada. Na comunidade funciona a escola Vale do Tinguá que oferece o ensino fundamental regular e oferece através do Programa Bairro Escola, junto ao Campo Escola atividades de educação ambiental, agricultura familiar e cultivo de plantas medicinais, que são oferecidos às crianças da escola e aos moradores do entorno.
Todas essas informações foram colhidas por intermédio do DRP e de encontros e capacitações dos responsáveis pelo projeto entre si e com os moradores da comunidade, as ações começaram a ganhar forma e os objetivos propostos pelo projeto da secretária de Nova Iguaçu começaram a tomar corpo. O projeto trás como meta principal, o descontentamento com a educação inadequada oferecida aos povos do campo em que os dizeres do Art. 28 da lei de nº 9.396/96 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional não estão sendo cumpridos, haja vista que a educação direcionada a população do campo não é vista como uma educação diferenciada, como é estabelecida pela lei e sim como um apêndice da educação urbana, neste sentido o pacote direcionado ao campo não se adéqua, a realidade em que se destina tais recursos seja eles humanos e/ou materiais.
Diante do quadro revelado pelos dados das potencialidades e declínios da região mostrados pelo DRP é que ações de cunho ambiental vêm sendo tomadas pelo projeto Campo Escola, essas ações visam o resgate das raízes locais, dos costumes, visa também desenvolver meios de exploração da terra de forma racional e trabalha os benefícios da educação ambiental no âmbito escolar e domiciliar da região do Vale do Tinguá.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante, ciberespaço, multimídia, internet, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida.
Diante do que foi apresentado nos relatos das experiências dos estagiários que atuam nas oficinas de educação ambiental, cabe considerar que utilizar do DRP contribui no processo de implantação da educação ambiental nessas comunidades e que a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora para os indivíduos, tornando-se essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável.
Entende-se, portanto, que a educação ambiental é condição necessária para modificar um quadro de crescente degradação socioambiental, mas ela ainda não é suficiente, o que, no dizer de Tamaio (2000), se converte em mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a construção das transformações desejadas.
A sustentabilidade como novo critério básico e integrador precisa estimular permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos aspectos extra-econômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a eqüidade, a justiça social e a própria ética dos seres vivos.
A noção de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento (JACOBI, 1997).
Nesse contexto, segundo Reigota (1998), a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos.
Para Pádua e Tabanez (1998), a educação ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudança de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente.
O desafio é, pois, o de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora, em dois níveis: formal e não formal. Assim a educação ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradacão é o homem.
Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os educadores ambientais são, de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso, solidariedade e iniciativa) e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes.

CONCLUSÃO
Observa-se com essas experiências que crianças, escola e comunidade, que aparecem como atores sociais almejam ajudar a construir escolas do campo, que desenvolvam um projeto eco-político-pedagógico vinculado às causas, aos sonhos, à história e à cultura do povo trabalhador rural.
Assim, pensar em educação ambiental, não é pensar em um ideário pedagógico pronto e acabado, mas, ao contrário, é pensar num contexto que está em constante transformação, construir um trabalho pedagógico específico e articulado envolvendo a comunidade e os educadores, para que busquem conhecer e respeitar os valores culturais de acordo com a sua região, tendo como eixo a construção do conhecimento e o processo participativo.
Contudo, este trabalho contribuiu também para atentar para todos os que fazem à educação, aprofundar a reflexão sobre Educação Ambiental referente ao ‘formato’ de escola que adere a perspectiva da educação integral, dedicando-se ao estudo de didáticas e metodologias que consigam traduzir esta concepção de escola e este projeto eco-político-pedagógico no cotidiano escolar, pois pensar a educação junto com uma concepção de Educação Ambiental significa assumir uma visão de totalidade dos processos sociais. Significa discutir a arte de educar, e os processos de formação humana, a partir dos parâmetros de um ser humano concreto e historicamente situado.
Assim, a escola pode transformar-se no espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto entrelaçado de práticas sociais, parte componente de uma realidade mais complexa e multifacetada. O mais desafiador é evitar cair na simplificação de que a educação ambiental poderá superar uma relação pouco harmoniosa entre os indivíduos e o meio ambiente mediante práticas localizadas e pontuais, muitas vezes distantes da realidade social de cada aluno.

Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – Rio de Janeiro, 1987 – 2000.
CHAMBERS, R. Rural Appraisal: Rapid, Relaxed and Participatory. London, Institute of Development Studies, 1992. (Discussion Paper 311).
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 14ª Ed, 2007.
(Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, Capítulo I. Art. 1º).
JACOBI, P. Cidade e meio ambiente. São Paulo: Annablume, 1997.
PÁDUA, S.; TABANEZ, M. (orgs.). Educação ambiental: caminhos trilhados no Brasil. São Paulo: Ipê, 1998.
PRETTY, J.; GUIJT, I.; THOMPSON, J. & SCOONES, I. Participatory Learning & Action: A Trainer’s Guide. London, IIED, 1995. 267 p.
REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998. p.43-50.
SORRENTINO, M. De Tbilisi a Tessaloniki, A educação ambiental no Brasil. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA.1998. p.27-32.
TAMAIO, I. A Mediação do professor na construção do conceito de natureza. Campinas, Dissert.(Mestr.) FE/Unicamp. 2000

Autores do Estudo
CAMILO, Simone Alves do Nascimento – SEMED/UFRuralRJ – simonenascimentoufrrj@yahoo.com.br; CRUZ, Edimar Almeida da – SEMED/UFRuralRJ- SANTOS, Gilvanete Lisboa dos Santos – SEMED/UFRuralRJ – netelis@yahoo.com.br; OLIVEIRA, Geovana Rocha de – SEMED/UFRuralRJ – geovanarocharural@yahoo.com.br; OLIVEIRA, Suelyn Porto de - SEMED/UFRuralRJ - suelynporto@yahoo.com.br; COELHO, Ana Carolina Falcão – CEPBE/Nova Iguaçu – carolcoelhopsi@ig.com.br; MARTINS, Maria Lucia Almeida - UFRuralRJ/DAT/IM - luciaalmei@yahoo.com.br; TORTELOTE, Patrícia Lopes – SEMED/Nova Iguaçu – ea.semed@yahoo.com.br; GUIMARÃES, Sirleia de Vargas Soeiro – SEMED/Nova Iguaçu - ea.semed@yahoo.com.br; SILVA, Jéssica Torres Passos - CEPBE/Nova Iguaçu - bairroescola.coordenadoria@gmail.com – jessicatorresrj@gmail.com; ALVES, Márcia Martins – CEPBE/Nova Iguaçu – bairroescola.coordenadoria@gmail.com; SOUZA, Meiriane Oliveira de - CEPBE/Nova Iguaçu - bairroescola.coordenadoria@gmail.com; OLIVEIRA, Nayra Elen Alves de - CEPBE/Nova Iguaçu - bairroescola.coordenadoria@gmail.com

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